terça-feira, 5 de abril de 2011

Cais de Cruzeiros de Angra vai ser construído em pleno Parque Arqueológico Subaquático

O cais de cruzeiros e a pobreza



António Ventura, 02.04.2011 no Diário Insular

Vale a pena fazer um cais de cruzeiros em Angra, tendo em conta a crise económica e social que se vive na Terceira e nos Açores? 
Podemos dar-nos a este luxo, enquanto várias actividades como o comércio, a restauração, o turismo, a agricultura, a pesca, os taxistas, entre outras estão a definhar. Enquanto o desemprego alastra nas famílias e os jovens emigram na tentativa de encontrar trabalho noutras paragens.

Estamos em estado de pobreza, demasiadamente em silêncio, que se agrava dia a pós dia e as pessoas já contam os cêntimos para o dia seguinte. Para mais, a crise seca o optimismo e a esperança num imenso deserto de imobilismo.

O Presidente do Governo Regional tem vindo a manter a decisão de fazer um cais de cruzeiros, mesmo sem ainda existirem estudos a decisão está tomada. Aliás, nunca compreendi esta decisão, primeiro anuncia-se a obra e só depois se pedem os estudos. Estranha forma de governar.

Não seria melhor utilizar estes milhões (50 milhões de euros, com as derrapagens seriam mais) para o apoio das pequenas e médias empresas, das famílias, no combate às toxicodependências que crescem com a crise, em especial o alcoolismo.

Em alternativa, vamos continuar a viver acima das nossas possibilidades, pois na Região e na Ilha anuncia-se mais prosperidade do que aquela que realmente existe. Fala-se em dinheiro que é mais virtual que real. Nada do que parece é verdade.

Considero que o cais de cruzeiros não é uma prioridade, aliás nunca foi e tenho dúvidas de alguma vez ser, resulta de uma teimosia política do PS. Um quero, posso e mando que está a provocar um endividamento galopante da Região para as gerações actuais e futuras. É preciso pensar para lá da nossa geração. A tão apregoada sustentabilidade não pode continuar a ser uma palavra vazia de sentido, tem de ter corpo. As heranças são pesadas.

É o momento de ponderar a utilização do dinheiro - do pouco que temos, numa coerência e prudência que beneficie as pessoas, principalmente na criação de emprego. O emprego é a melhor política social que se pode conceber. Deve ser o remédio de todos os males. 
Em tempo de crise (que só agora começou) interessa canalizar o dinheiro para o essencial e o essencial neste momento e nos próximos anos não é construir um cais de cruzeiros em Angra.