segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

ICOMOS

O ICOMOS é o principal conselheiro da UNESCO em matérias que digam respeito à conservação e protecção de monumentos e sítios classificados. Juntamente com o IUCN (União de Conservação Mundial), foi ao ICOMOS que competiu, no quadro de uma proposta temática sobre Os Descobrimentos Marítimos dos Séculos XV e XVI, a recomendação da inscrição de Angra do Heroísmo na lista do Património Mundial em nome dos critérios IV e VI.

De acordo com o Critério IV, o ICOMOS considerou que o Porto de Angra, escala obrigatória das frotas de África e das Índias em pleno Oceano Atlântico, era o exemplo eminente de uma criação ligada à função marítima, no quadro dos grandes Descobrimentos. Pelo Critério VI considerou que, tal como a Torre de Belém e o Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa, Angra do Heroísmo está directa e materialmente associada a um acontecimento que tem um significado histórico universal: Os Descobrimentos Marítimos que permitiram as trocas entre as grandes civilizações do planeta.

Aquando do processo de construção da Marina de Angra, que reportou ao ICOMOS, Daniel Drocourt, Comissário das Cidades Mediterrâneas Património Mundial?

Simplesmente isto:

"A simbologia histórica da Baía e da sua cidade está completamente adulterada pela construção selvagem que tem vindo a ser feita nos últimos mandatos camarários, especialmente desde que o Sr. Joaquim Ponte esteve à frente do Município. A construção do porto de recreio é uma aberração, ao se ter escolhido para a sua implantação um local historicamente significativo como é a Baía de Angra, local que é mesmo o grande responsável pela inclusão de Angra no grupo restrito das Cidades Património Mundial. A escolha foi tão errada que até as recentes descobertas arqueológicas feitas no local de implantação do molhe vieram corroborar a importância que a baía de Angra assume para a cidade e para a Humanidade.”

“Portugal tem vindo a assumir uma atitude de secretismo, não comunicando ao ICOMOS ou à Comissão nacional UNESCO quaisquer factos que possam vir a colidir com aquilo que o Governo português entende como o progresso e o bem-estar material das populações. O que o Governo Português tem de entender é que não pode continuar com atitudes desta natureza e continuar a ter as suas cidades classificadas como Património Mundial, enquanto as vai descaracterizando e adulterando. Pela minha parte, fui apenas informado oficialmente do que se passava há apenas 3 semanas, tendo imediatamente transmitido todas as informações que possuía ao Comité de Paris, a 2 de Março, para que este fizesse aplicar as orientações da Convenção que diz respeito a este caso.

Tudo o que me foi entregue, por parte dos responsáveis açorianos foi uma fotomontagem do que poderia vir a ser o porto de recreio implantado na baía, o que é perfeitamente inútil para a emissão de um parecer sobre o que quer que seja. Nada mais me chegou às mãos!”

“Estou em crer que Angra está, mais uma vez, em perigo de poder ser desclassificada e de ver o seu nome retirado da lista de Cidades Património Mundial. Não só devido à construção do porto de recreio, mas também devido à anunciada supressão do Gabinete da Zona Classificada da Cidade de Angra, cuja criação constitui uma das condições para a atribuição da classificação.”

“Desde a gestão camarária de Joaquim Ponte que se tem vindo a assistir a um combate mortal entre os que defendem a criação de uma cidade moderna, nova, à americana, e os que pretendem manter a riqueza cultural, arquitectónica e histórica da Angra clássica. Parece-me que Angra é cada vez mais uma cidade americanizada e estou em crer que se os alguns angrenses pudessem, teriam construído o hipermercado mesmo junto ao porto.

Os habitantes de Angra têm de se questionar seriamente sobre se pretendem realmente continuar a ser Património Mundial ou se preferem construir não importa o quê, não importa aonde.

A situação é tão grave que, para o ICOMOS, pior que Angra, só o que se passa em alguns países africanos.”


publicado por Alexandre Monteiro

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