quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

"os navios afundados da Terceira eram de longe os mais antigos e abundantes do arquipélago..."


“Ele não acreditava na exploração das profundezas marinhas e no seu dispendioso equipamento, dizendo que as profundezas em redor da Terceira eram tão ricas em naufrágios que mesmo as águas relativamente superficiais, ao alcance dos vulgares mergulhadores, constituiriam um desafio suficiente para gerações de cientistas. Os galeões existentes nas pro...fundezas conservar-se-iam bem, disse ele. Trazê-los agora à superfície e lutar para os preservar em terra esgotaria os escassos fundos arqueológicos destinados aos vastos estudos das riquezas culturais ocultas no mar.

– O ponto de vista dos caçadores de tesouros é quantitativo, querem cada vez mais – disse o Alves. – O do arqueólogo é qualitativo. Deve escavar-se o menos possível – é uma lei arqueológica. Escavar é destruir. Assim, avalia-se, faz-se uma grelha, observa-se cada detalhe antes de retirar seja o que for. E como Sherlock Holmes. E presume-se a enorme importância da documentação, do registo das observações, das notas e fotografias. Com os caçadores de tesouros, é só escavar, escavar, escavar. «Este não tem tesouros, vamos para o próximo». Fazem um duplo estrago. Não estudam o que descobrem e expõem-no aos elementos.

Numa cadeira, encontrava-se um mapa náutico dos Açores em que as ilhas estavam rodeadas por uma grande quantidade de alfinetes coloridos. De acordo com a legenda, cada alfinete representava um naufrágio – amarelo para o século vinte, verde para o dezanove, preto para o dezoito, azul para o dezassete, vermelho para o dezasseis.
Não havia naufrágios na corte setentrional da Terceira, apenas na metade sul da ilha em redor da baía de Angra.

Num relance, o mapa mostrava que os navios afundados da Terceira eram de longe os mais antigos e abundantes do arquipélago, como indicava a densa mancha de alfinetes azuis e vermelhos.
Uma das principais razões para isso eram os ventos traiçoeiros que atiravam os navios para os rochedos. Chamavam-lhes ventos carpinteiros, por causa daquela madeira toda.”


William J. Broad, “O Universo lá em Baixo – Os Mistérios do Mar”
(autor galardoado com o Prémio Pulitzer)

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