sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Projecto PIAS






Enquadramento Legal:
Os sítios arqueológicos subaquáticos a intervir no âmbito do projecto PIAS estão incluídos no Parque Arqueológico da baía de Angra do Heroísmo, criado pelo Governo Regional dos Açores, entidade que tutela o património da região (Decreto Regulamentar Regional n.º20/2005/A de 12 de Outubro). 

As actividades a desenvolver enquadram-se por isso nas propostas de protecção e gestão onde é considerada importante a salvaguarda e o estudo do património arqueológico subaquático, a divulgação de um turismo cultural associado e a promoção do conhecimento da história dos Açores. Como consequência, o estudo proposto pretende contribuir para uma melhor gestão do património da baía de Angra ao fornecer à Região Autónoma dos Açores os elementos necessários para uma avaliação das medidas de monitorização, preservação e valorização turística a implementar futuramente nestes vestígios.

O projecto é promovido pelo Centro de História de Além-Mar (CHAM), unidade de investigação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e da Universidade dos Açores e financiado pela Direcção Regional da Cultura dos Açores (DRC).

Antecedentes
A apresentação deste projecto vem na sequência de diversas descobertas arqueológicas subaquáticas realizadas na baía de Angra do Heroísmo, que documentam a utilização do porto da cidade entre os séculos XVI e XIX por navios provenientes da Europa e territórios ultramarinos.

Um conjunto de âncoras situado a Este do Monte Brasil, conhecido desde o início do mergulho com escafandro autónomo, corresponde a um dos antigos fundeadouros da cidade. Na década de 1960 foi recuperada uma colecção de artilharia em bronze na baía do Fanal, actualmente depositada no Museu de Angra, tal como acontece com algumas peças cerâmicas e numerosas peças de artilharia em ferro recuperadas no interior da baía.

A investigação de vestígios de naufrágio foi contudo iniciada apenas a partir de 1996, quando uma equipa do Institute of Nautical Archaeology (INA) e dos Amigos do Museu de Angra fez os primeiros levantamentos nos sítios Angra A e Angra B e desenvolveu trabalhos de prospecção remota em frente à cidade.

Em 1998, no âmbito da mitigação de impactes das obras de construção da marina de Angra do Heroísmo, foram localizados vestígios de outros dois navios (Angra C e D), escavados posteriormente e depositados a Este do Monte Brasil onde se encontram na actualidade.

As descobertas continuaram nos anos seguintes e em 2001 mergulhadores locais declararam os naufrágios Angra E e F, alvo nesse ano de uma missão de verificação promovida pela DRC. Mais recentemente, em 2004, a DRC deu início a um programa de carta arqueológica dos Açores, no âmbito do qual, entre numerosos vestígios dispersos, foram identificados os naufrágios Angra G e H.

Na sequência destas descobertas, o Governo Regional dos Açores decretou em 2005 a baía de Angra como Parque Arqueológico Subaquático, iniciativa que tem como objectivos divulgar, sensibilizar e valorizar o património cultural subaquático regional.

Os sítios do projecto
No âmbito do projecto PIAS prevê-se a intervir nos sítios de naufrágio Angra A, Angra B, Angra E e Angra F e estudar as estruturas do navio Angra D.

Os vestígios de Angra A situam-se no interior da baía, próximo do Porto Novo, aproximadamente a cerca de 5 ou 7 m de profundidade. No sítio foi identificada uma mancha de lastro com cerca de 35 m de comprimento por 11 de largura. Em 1996, foi alvo de uma missão de registo preliminar promovida pelo INA e a DRC. As características arquitecturais da embarcação analisadas parecem indicar tratar-se de um navio do século XIX.




Angra B foi localizado junto ao cais da Figueirinha, submerso a cerca de 5 metros de profundidade. O sítio corresponde a um tumulus de lastro onde se pode observar parte da estrutura do navio, balizas e tabuado. Em 1996, foi alvo de uma missão de registo e avaliação preliminar promovida pelo INA e a DRC que permitiu verificar tratar-se possivelmente de um navio ibérico dos séculos XVI ou XVII



O sítio Angra D encontrava-se a cerca de 50 m da costa, defronte da cidade, numa área com uma profundidade de cerca de 7 m. Foi escavado em 1998 no âmbito da mitigação de impactes arqueológicos promovidas no contexto das obras de construção da marina de Angra do Heroísmo. A embarcação encontrava-se preservada numa mancha com 35 metros de comprimento máximo e 7 de largura máxima (na zona da proa do navio) e, após escavação, foi desmontada e depositada numa área protegida da baía. 

Durante a escavação foi ainda localizada uma colecção diversificada de materiais arqueológicos, relacionados com diversas actividades a bordo e com o funcionamento do navio. A análise preliminar da estrutura permitiu estabelecer paralelos entre os métodos utilizados na sua construção e na de outros navios de origem Ibérica dos séculos XVI e XVII, procedência cultural que parece ser confirmada por outros vestígios: anforetas e cerâmicas finas, fabricadas no sul de Espanha, e mercúrio, metal largamente utilizado nas minas americanas a partir de meados do século XVI na extracção da prata. No âmbito deste projecto pretende-se dar continuidade ao estudo da estrutura do navio através do registo e análise dos elementos depositados no interior da baía e reanálise da documentação disponível.

Os sítios Angra E e F foram declarados em 2000 por mergulhadores locais. Em Angra E uma missão de verificação efectuada pela DRC permitiu observar três núcleos com madeiras. Foi recuperado um caldeirão em bronze, um cabo de faca em osso e alguns fragmentos cerâmicos. Em Angra F foram descobertos vestígios de um navio construído em madeira de cronologia e origem indeterminadas protegido sob um tumulus de lastro.


Bibliografia 
Crisman, K. (1999b), Angra B: the lead-sheathed wreck at Porto Novo (Angra do Heroísmo, Terceira island, Azores, Portugal). Revista Portuguesa de Arqueologia volume 2. número 1, pp. 255-262.
Crisman, K. e Jordan, B.(1999a) – “Angra A: the lead-sheathed wreck at Porto Novo (Angra do Heroísmo, Terceira island, Azores, Portugal)”. Revista Portuguesa de Arqueologia, volume 2. número 1, pp. 249-254.
Garcia, C. e Monteiro, P. (2001), The excavation and dismantling of Angra D, a probable Iberian seagoing ship, Angra bay, Terceira Island, Azores, Portugal.
Preliminary assessment. In International Symposium on Archaeology of Medieval and Modern Ships of Iberian-Atlantic Tradition. F. J. S. Alves. Lisboa, IPA. Trabalhos de Arqueologia 18, pp. 431-447.
Garcia, C., et al. (1999), "Os destroços dos navios Angra C e D descobertos durante a intervenção arqueológica subaquática realizada no quadro do projecto de construção de uma marina na baía de Angra do Heroísmo (Terceira, Açores). Revista Portuguesa de Arqueologia, volume 2. número 2, pp. 211-232.
Monteiro, P. (1999), Os destroços dos navios Angra C e D descobertos durante a intervenção arqueológica realizada no quadro do projecto de construção de uma marina na baía de Angra do Heroísmo (Terceira, Açores): discussão preliminar.
In Revista Portuguesa de Arqueologia, volume 2. número 4, pp. 233-261.

publicado por Alexandre Monteiro

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