terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Arqueologia subaquática sensibiliza nas escolas

In A União
By Humberta Augusto
September 04, 2006

Os estabelecimentos escolares da ilha Terceira vão ser sensibilizados para o património arqueológico subaquático da Baía de Angra.
A direcção regional da Cultura vai promover uma série de visitas para promover o interesse a salvaguarda do espólio submerso.

O património arqueológico subaquático da Região vai chegar às escolas este ano.



Já no próximo mês de Setembro, os estabelecimentos escolares da ilha Terceira vão receber visitas dos técnicos da direcção regional da Cultura (DraC) que desenvolverão acções de sensibilização junto das populações mais novas.
Trata-se de um projecto impulsionado pela criação do primeiro parque arqueológico subaquático do País, localizado na Baía de Angra do Heroísmo, e que traz um novo impulso à investigação e ao trabalho desenvolvido no sector.

Isso mesmo refere, em declarações ao jornal “a União”, a arqueóloga da DraC, Catarina Garcia, ao explicar que “a actividade arqueológica subaquática nunca esteve tanto activa como agora”.
“Neste momento há uma linha de rumo, há um projecto estruturado”, disse a responsável.
A deslocação deste trabalho subaquático para o espaço escolar insere-se numa estratégia já planeada de dar a conhecer o trabalho entretanto desenvolvido junto das crianças e jovens para potenciar o interesse e a salvaguarda deste património.

Para tal, a DraC, através do Centro do Conhecimento dos Açores (CCA) aloja no seu site, no link dedicado aos Parques Arqueológicos Subaquáticos dos Açores, um portal inteiramente dedicado aos mais novos sobre os sítios visitáveis em Angra, fornecendo não só o enquadramento histórico dos achados, como noções de arqueologia, de técnicas e instrumentos, jogos, passatempos que, através de uma linguagem jovem, pretende “criar interesse junto de miúdos e graúdos”, afirmou.
A ideia, explicou, é alargar esta campanha de sensibilização a todas as escolas da Região.
Catarina Garcia destaca o facto de este ser o primeiro site do género no país que cruza a informação entre a arqueologia e a história exclusivamente para jovens.


Arqueologia e História na Baía

Igualmente inédito é o projecto que juntou o Centro de História de Além-Mar (CHAM) da Universidade Nova de Lisboa e o Núcleo de História do Atlântico da Universidade dos Açores este Verão para dar início aos trabalhos de prospecção que hoje terminaram na Baía de Angra O responsável pela equipa do CHAM, arqueólogo José António Bettencourt, aponta esse facto “é um projecto inovador em Portugal porque é a primeira vez que se cruzam especialistas nas diferentes áreas da arqueologia e história, com investigadores de topo na investigação”.

O projecto trienal de arqueologia marítima, financiado pela Direcção Regional da Cultura, estará pronto em 2008 e até lá quer desenvolver o estudo, salvaguarda e a promoção património cultural subaquático da Região através da análise de vestígios arqueológicos com o cruzamento de fontes históricas sobre a importância do porto de Angra como escala da navegação transatlântica entre os séculos XVI e XIX.
O resultado final, será a publicação científicas de estudos, livros, realização de colóquios, criação de portais na internet, entre outras iniciativas.
O que se pretende, em última análise, é acabar de explorar os treze sítios arqueológicos (ver coluna) que compõe o Parque Arqueológico de Angra, e do qual apenas o “Run´Her”, o “Lidador”, e o “Cemitério das Âncoras” foram exaustivamente estudados, sendo estes últimos visitáveis.
Segundo a arqueóloga Catarina Garcia, após esta investigação, ficar-se-á a saber se há interesse em alargar estes locais visitáveis.


Cadaste e caldeirão “musealizáveis”

Além da obtenção de dados, foram igualmente recuperados pela equipa, no final da semana, dois importantes vestígios do fundo da Baía que apresentavam risco de destruição, mas “com muito significado patrimonial e potenciais objectos musealizáveis”, disse João Bettencourt.
Foram retirados do mar um cadaste (parte da popa de uma embarcação onde encaixa o leme), encontrado próximo do sítio arqueológico “Angra B” e um caldeirão em bronze, localizado a este do “Lidador”.
Além destes dois objectos, ao longo dos trabalhos, foram igualmente resgatados do fundo da Baía de Angra diversos pequenos objectos, como pedaços de cerâmica e outros materiais provenientes das embarcações afundadas.

Para já, aquilo que está a ser apurado prende-se com a datação, o registo, a avaliação das condições de preservação, a origem e o enquadramento histórico dos sítios arqueológicos.
Neste primeiro ano, os trabalhos consistem na identificação dos vestígios, através do levantamento em fotografia, desenho e sua interpretação.
Segundo José Bettencourt, até 2008 serão “avaliadas as potencialidades de cada sítio para definir estratégias específicas para cada um deles porque cada um tem as suas características”.
José Bettencourt não tem dúvidas das potencialidades desta investigação para o desenvolvimento de uma melhor oferta do património da Baía de Angra do Heroísmo: “tem um enorme potencial arqueológico subaquático”.


Angra - Sítios arqueológicos

Ao todo, são treze os sítios arqueológicos que compõe o Parque Arqueológico Subaquático de Angra do Heroísmo, doze deles relativos a embarcações naufragadas e uma zona de deposição de âncoras.

– O “Angra A” corresponde a um naufrágio localizado entre o cais da Figueirinha e a Prainha e depositado a cinco metros de profundidade com uma mancha de destroços visível ao longo de quarenta metros de extensão.

– O “Angra B” corresponde a um naufrágio onde é possível observar dois núcleos de destroços: o primeiro é composto por um aglomerado de pedras de lastro e algumas madeiras do casco do navio, como a quilha.

– O “Angra C” foi localizado sob uma espessa camada de um metro de sedimento, tendo sido transladado para uma zona da baia fora do alcance das obras da marina.

– O "Tumulus" de “Angra C e D” são peças integrantes dos dois navios foram registadas in situ e posteriormente retiradas, tendo sido criado no local um túmulo artificial para estas peças, que se encontram cobertas por sacos de areia para protecção.

“O Angra D” reporta-se a um casco bem preservado, depositado sob uma espessa camada de pedras de lastro e sedimento arenoso, com um total 35 metros de comprimento, provavelmente de origem hispânica.

– O “Angra E” tem três núcleos visíveis de madeiras, tendo sido recuperado deste local um caldeirão em bronze, um cabo de faca em osso e alguns fragmentos cerâmicos.

– O “Angra F” está junto ao naufrágio do Lidador, a cerca de 8 metros de profundidade e é composto por uma extensão de pedras de lastro de mais de 30 metros.

– o “Angra G” foi o último núcleo arqueológico a ser descoberto na baía de Angra, composto por duas grandes âncoras, madeiras e artefactos diversos, apontando para um naufrágios da carreira da Índia (séc. XVI-XVII.

– O “Lidador”, encalhado paralelamente ao Cais da Figueirinha, pertence a um dos dois locais visitáveis do Parque Arqueológico, representando um dos últimos naufrágios a ocorrer na Baía de Angra.

– O “Run'her”, navio inglês, foi encontrado sob o casco do navio “Angra D”, estando disperso as suas peças.

– No “Cemitério das Âncoras”, o segundo local visitável, estão depositadas entre a cota dos -15 a -35 metros de profundidade um vasto conjunto de âncoras que estende-se por uma área de cerca de 500 metros ao longo do Monte Brasil.

“Canhões”: estes são igualmente os bens mais encontrados na Baía.

“Vestígios Dispersos”: um pouco por toda a baía de Angra são encontrados vestígios arqueológicos, oriundos dos muitos navios que ali escalaram ou se perderam


publicado por Constança Duarte Gonçalves

Sem comentários:

Enviar um comentário